Custos do não compliance

Não Compliance

A ausência de conformidade nas empresas vai além de um simples desvio de boas práticas. Ela abre espaço para fraudes, corrupção e outras condutas ilícitas que afetam tanto a reputação da organização quanto a sociedade. A permissividade resultante dessa falta de controle pode levar a manipulações de resultados financeiros, ignorância às normas regulatórias e até lavagem de dinheiro. Os danos vão muito além dos muros corporativos.

Eu sempre fico impressionada com o quanto o custo da corrupção pode ser devastador. Em 2019, o estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) apontou que a corrupção no Brasil custava o equivalente a 29 dias de trabalho, ou R$ 160 bilhões, recurso que poderia beneficiar a sociedade.

Embora algumas empresas obtenham vantagens momentâneas ao ignorar o compliance, os custos futuros quase sempre superam os benefícios. O Manual de compliance, de Carvalho et al. (2021), utilizado como base para esta coluna, discute como um programa de compliance bem estruturado pode prevenir prejuízos financeiros e evitar a perda de confiança do mercado, um dos ativos mais valiosos para qualquer empresa.

A reputação sofre impactos imediatos. Quantas empresas já vimos perder valor no mercado após serem envolvidas em escândalos? A queda nas ações, a fuga de investidores e a desconfiança são consequências diretas. Empresas inscritas em cadastros como o Cadastro Nacional de Empresas Punidas (CNEP) enfrentam longos caminhos para se reerguer.

Lembro-me de um gestor que compartilhou os altos custos de uma investigação interna após a descoberta de irregularidades. Além do impacto financeiro, a confiança dos parceiros comerciais foi abalada. Ficou claro para ele que o compliance não é apenas seguir regras, mas garantir a sobrevivência no longo prazo.

O compliance, quando bem implementado, funciona como um selo de qualidade. Ele transmite ao mercado que a empresa valoriza a integridade, a responsabilidade e o compromisso com a ética. Isso faz toda a diferença em tempos em que os consumidores estão cada vez mais atentos às práticas empresariais. Empresas que investem em compliance e governança corporativa têm maior longevidade, já que evitam os altos custos que surgem quando a não conformidade é exposta.

Os custos do não compliance, por outro lado, são amplos e profundos. Além da perda de reputação e da confiança do mercado, há o aumento do custo de transação e do custo de capital. Negociar com uma empresa envolvida em escândalos de corrupção se torna um risco elevado, o que afasta parceiros e torna as operações mais caras. E não podemos esquecer dos gastos com advogados, custas processuais e multas, que podem ser altíssimos.

E, claro, há a questão dos programas de leniência, que oferecem às empresas uma oportunidade de reduzir penalidades ao cooperarem com as investigações. Somente as empresas que possuem estruturas de compliance estão preparadas para identificar irregularidades e minimizar os danos.

Os números deixam clara a lição: os custos do não compliance são sempre mais altos do que o investimento necessário para implementar um programa de conformidade eficaz. Empresas que optam por ignorar essa realidade estão, na verdade, cavando sua própria vala.

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Denise Debiasi é CEO da Bi2 Partners, reconhecida pela expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativas, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte a litígios, entre outros serviços de primeira importância em mercados emergentes.

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