Recentemente, presenciei uma situação que me fez refletir sobre o quanto ainda subestimamos a proteção de dados pessoais em relação à LGPD. Uma empresa, sem perceber, estava armazenando informações sensíveis de clientes de maneira desprotegida, em uma pasta aberta na nuvem, com todos os funcionários podendo acessar. Parecia um detalhe técnico mas, quando o problema veio à tona, ficou claro o risco real: um vazamento poderia expor informações privadas, prejudicar os clientes e manchar a reputação da empresa.
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) deixa claro que toda empresa precisa ser responsável pelas informações que coleta, mas você já parou para pensar quais dados realmente precisam de proteção? A lei categoriza essas informações de formas diferentes, sendo as mais importantes os dados pessoais e os dados pessoais sensíveis.
Os dados pessoais são aqueles que permitem identificar uma pessoa, seja diretamente (como nome, CPF, telefone) ou de forma indireta, cruzando informações (como localização, hábitos de consumo e até cookies de navegação). Parece algo distante, mas basta pensar no quanto os aplicativos e sites que usamos diariamente sabem sobre nós. Um simples histórico de compras já pode traçar um perfil detalhado de alguém.
Agora, imagine que um sistema de cadastro de clientes vaze essas informações. Dependendo do contexto, isso pode expor preferências pessoais, rotina e até dados financeiros, aumentando o risco de golpes e fraudes. É por isso que qualquer empresa que colete ou armazene esse tipo de dado precisa garantir segurança e conformidade com a lei.
Se os dados pessoais já pedem cuidado, os dados sensíveis exigem um nível de proteção ainda maior. Aqui, estou falando de informações que podem gerar discriminação ou afetar diretamente a vida de uma pessoa: origem racial, religião, posição política, saúde, genética, biometria e vida sexual são alguns exemplos.
A LGPD exige que o tratamento de dados sensíveis seja feito com consentimento explícito do titular e para uma finalidade bem definida. Existem exceções, como em casos de interesse público, pesquisas científicas ou para proteger a vida, mas qualquer empresa que lide com esse tipo de informação precisa estar ciente dos riscos e adotar medidas eficazes para evitar vazamentos.
Além dos dados pessoais e sensíveis, a LGPD também menciona os dados públicos e os dados anonimizados. Os primeiros são informações já disponíveis publicamente, mas isso não significa que podem ser usados de qualquer jeito. Já os dados anonimizados são aqueles que passaram por um processo para impedir a identificação da pessoa – porém, se for possível reverter esse processo, eles voltam a ser protegidos pela LGPD.
No fim das contas, os dados são ativos valiosos. Quando bem protegidos, garantem segurança e confiança; quando negligenciados, podem resultar em problemas legais e danos irreparáveis para indivíduos e empresas. O desafio não está apenas em cumprir a lei, mas em criar uma cultura de respeito à privacidade e ao uso responsável das informações.
Se a sua empresa trata dados pessoais, a pergunta que fica é: vocês realmente estão preparados para lidar com essa responsabilidade?
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Denise Debiasi é CEO da Bi2 Partners, reconhecida pela expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativas, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte a litígios, entre outros serviços de primeira importância em mercados emergentes.