Tendências da gestão de riscos para 2022

Gestão de Riscos

Agora que o pós-pandemia se aproxima, fica o questionamento: como adaptar a gestão de riscos à nova realidade? Lembrando que, um bom programa de gestão de risco é essencial para atrair investidores e clientes, pois é ele que reduz as ameaças à longevidade e reputação de uma empresa.

Um dado interessante é que, segundo o IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), 80% das empresas brasileiras de capital fechado contam com pessoas responsáveis pelo compliance, seja um profissional específico para isso ou que exerça funções relacionadas, como por exemplo, o responsável jurídico (embora o ideal seja um responsável seja específico para essa função)[1].

Para tentar responder à questão acima, iremos abordar algumas tendências e boas práticas observadas neste ano de 2021 que poderão contribuir para a gestão dos negócios e riscos em 2022[2].

Quadro de maturidade de riscos para consolidação dos processos e controles

É importante que líderes na gestão de riscos componham um time de acionistas para mapeamento de riscos que combine a técnica e o expertise de negócio necessários para tomar decisões de risco inteligentes e ágeis, bem como estabelecer políticas e procedimentos e implementar os controles adequados. Quanto à tecnologia, é necessário desenvolver infraestrutura de TI capaz de centralizar e contextualizar a informação sobre a gestão de riscos.

Nesse sentido, uma pesquisa feita pela Sapio Research apontou que 82% dos tomadores de decisão de TI se sentem pressionados a minimizar a gravidade dos riscos cibernéticos para os membros da diretoria. A pesquisa revelou ainda que apenas 50% dos líderes de TI e 38% dos tomadores de decisão de negócios acreditam que os membros do alto escalão compreendem a fundo esses riscos. Um fator interessante nessa pesquisa é que a maioria das empresas ainda entende as ameaças digitais como apenas riscos cibernéticos e não como riscos comerciais[3].

Acervo de tecnologia de gestão de riscos expandindo-se para a política de governança

A política de governança agora inclui – ou deverá incluir – a criação e a gestão de políticas, a condução da avaliação e compreensão da postura de riscos, a identificação de falhas no compliance regulatório, gestão e resposta a incidentes e automatização do processo de auditoria interna. É importante saber usar a tecnologia não apenas de forma reativa, mas de forma proativa, incluindo os seguintes itens em um acervo de tecnologia:

  • Intelligence analytics para riscos geopolíticos, desastres naturais e outros incidentes
  • Ferramentas de avaliação de riscos de terceiros para monitorar sanções, incidentes de segurança e saúde financeira
  • Sistemas de segurança para assessorar o impacto potencial de vulnerabilidades, brechas e ataques cibernéticos
  • Monitorar redes sociais para gerenciar a reputação da marca

Case: Netflix[4]

A gigante americana de serviço de streaming possui uma forma única de lidar com sua governança corporativa: a transparência e a aproximação entre o conselho de administração e a gestão. Praticamente tudo é compartilhado entre ambas as partes e as reuniões ocorrem mensalmente para discutir melhorias, enquanto, na maioria das empresas, não só não há uma comunicação tão boa entre conselho e gestão, quanto as reuniões ocorrem pouquíssimas vezes por ano. Inclusive, a comunicação da Netflix é tão eficiente que ela cria séries e filmes com base nos comentários dos usuários nas redes sociais, mantendo-se, assim, sempre atualizada do que o seu público-alvo deseja.


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Gestão de riscos vista como vantagem competitiva

Muitas empresas estão olhando para a gestão de riscos como uma forma de aumentar a sua capacidade competitiva, em vez de simplesmente evitar situações ruins – principalmente devido à pandemia da Covid-19 – sendo que, nesse cenário, o diretor de riscos atual, ou transformacional, é aquele que enxerga o risco como uma vantagem competitiva, uma contraposição ao diretor de riscos tradicional, que foca apenas em minimizá-los. Aliás, o transformacional mobiliza mais e melhor os times e os líderes do negócio para aproveitar oportunidades no mercado.

Apesar da pandemia, vimos em 2021, um recorde de operações de fusões e aquisições: foram 1361, um aumento de 21,8% em relação a 2020. Esse crescimento, inclusive, vem acompanhado de uma maior busca por analistas de investimentos e profissionais de equity research[5].

Amplo uso de demonstrações de apetite ao risco

Essas demonstrações de apetite ao risco começaram a substituir técnicas rudimentares de “múltipla escolha” para guias diários definitivos de decisões de gestão de riscos. Ainda assim, algumas companhias acreditam que essas demonstrações possam limitar a habilidade de buscar novas oportunidades, enquanto outras se preocupam com o fato de que uma demonstração mal escrita possa ser interpretada como tolerante a práticas inaceitáveis.

Quanto a isso, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) lançou um guia de adequação dos negócios às aplicações de segurança da informação[6].

Painéis de especialistas no assunto agilizam a avaliação e a resposta ao risco

O uso de um software de gestão de risco (uma plataforma GRC-Gestão de Riscos Corporativos) não só reúne informação de risco como pode colaborar para unir vários departamentos, criando um painel de especialistas de determinadas áreas para tomar uma ação conjunta quando surge um problema ou uma crise.

A avaliação de riscos no início de um novo projeto deve traçar o melhor plano e encontrar um sistema que dê apoio a uma resposta de risco oportuna, produzindo os melhores resultados e garantindo o sucesso da empresa.

Ferramentas de mitigação e medição de risco se multiplicam

Cada vez mais, as empresas estão se voltando para ferramentas integradas que possibilitam novas funções e benefícios:

  • Apresentam uma visão holística de riscos na organização em um único lugar (dashboard)
  • Capturam indicadores principais para mostrar as tendências dos riscos
  • Promovem accountability pelas ações tomadas para mitigar os riscos
  • Promovem relatórios em tempo real para ajudar em decisões de gestão

GRC encontra ESG

A tendência crescente de incorporação ou aprimoramento dos princípios do ESG (ambiental, social e governança) à estratégia de negócios vem recebendo atenção cada vez maior das empresas. Nesse sentido, simulações, jogos de guerra, mesas de jogos e workshops interativos tem sido usados para promover um pensamento multifuncional sobre risco, com o objetivo de ajudar a avaliar o impacto de diferentes futuros no planejamento e estratégias de negócios corporativos, lembrando que riscos relacionados ao impacto ambiental, social e de integridade/transparência para com as partes interessadas no negócio (stakeholders) são tema central do ESG como critério de avaliação da sustentabilidade e reputação do negócio pelo mercado financeiro e sociedade.

Outro fator importante tem sido evitar o greenwashing[7]: muitas empresas estão sendo criticadas por relatarem metas ou práticas sustentáveis sem, de fato, fazer a lição de casa e empreender esforços para alcançá-las como foi o caso do McDonald’s, que passou a oferecer um canudo de papel em substituição ao de plástico, mas que depois se descobriu que o canudo não era de fato reciclável[8]. Ou seja, faltou a lição de casa, antes de anunciar a iniciativa.

Compromisso entre as áreas

Os empreendimentos estão priorizando resiliência além de uma simples gestão de riscos para lidar com as rupturas causadas pela pandemia da Covid-19. Empresas com estratégias de riscos bem estabelecidas que envolvem e conectam todos os departamentos a uma política clara de GRC, conseguem se recuperar mais rapidamente de adversidades e crises.

Outros Cases

Shopper: primeiro supermercado do Brasil a neutralizar o carbono ao longo da cadeia de negócio[9]

Seguindo a tendência ESG, a startup de um aplicativo de supermercado 100% online passou a compensar todas as emissões de carbono da operação, o que a tornou o primeiro supermercado a neutralizar o carbono em todas as etapas do negócio. Como a Shopper conseguiu isso? Investindo na compra de crédito de carbono, que é um ativo que corresponde à regeneração ou preservação de florestas no país. Os créditos obtidos nesse caso, contribuem com o projeto REDD+ de conservação florestal no Vale do Jari.

Todo esse trabalho de neutralização foi realizado por meio de uma assessoria estratégica, a fim de proteger e agregar valor à marca e consolidar a gestão de riscos.

No entanto, nossa recomendação para a Shopper seria desenvolver, paralelamente, um programa de qualificação e certificação de fornecedores que prezem pela redução das emissões, já que do ponto de vista do ESG, é mais importante é reduzir as emissões de GEE (Gases do Efeito Estufa) inovando em processos, otimizando o uso de recursos naturais, substituindo fontes energéticas fósseis por renováveis, investindo em capacitação profissional para qualidade e segurança dos produtos, melhores práticas para atração e retenção de talentos (capital humano) e aumento da diversidade para favorecer a inovação (criatividade), e outras práticas constantes de uma agenda ESG para o negócio que favoreça a longevidade do negócio e a solidez da sua marca.

Via Varejo: lidando com uma crise inesperada[10]

A Via Varejo lançou uma campanha da Black Friday tendo a cantora Marília Mendonça como garota-propaganda, porém, ao saber do acidente que causou o falecimento da artista, a empresa rapidamente emitiu um comunicado expressando pesar e retirou a propaganda do ar. Com isso, a empresa demonstrou reação rápida e conseguiu lidar bem com um problema inesperado, evitando uma crise reputacional se decidisse explorar a imagem de uma celebridade querida do público que sofria com sua perda, independentemente dos prejuízos incorridos na interrupção da campanha.

Conclusão

Se formos escolher uma única palavra para a gestão de riscos em 2021, essa palavra é “transparência”. Isso porque a pressão por ser ou fazer aquilo que a empresa prega ou se compromete a respeito está cada vez maior. As exigências de ajuste a esse novo cenário são muitas, em todas as áreas, e será necessário tempo e paciência para se alcançar uma adaptação completa. Contudo, para que isso aconteça, as empresas deverão de fato cumprir seu planejamento, se esforçar para atingir metas, investir em boas práticas de compliance, evitar o greenwashing e atender às demandas do público atual que, cada vez mais, deseja ver mudanças reais e eficazes. Ainda estamos em uma fase de transição, mas já é possível afirmar que o discurso vazio não mais manterá uma empresa de pé, ao contrário, será seu “calcanhar de Aquiles”. Apenas o verdadeiro cumprimento das promessas fará isso.


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[1] Disponível em < https://canaltech.com.br/gestao/gestao-de-risco-e-big-data-devem-andar-de-maos-dadas/  > Acesso em 26 de outubro de 2021.

[2] Disponível em < https://searchcio.techtarget.com/feature/8-top-enterprise-risk-management-trends  > Acesso em 28 de outubro de 2021.

[3] Disponível em < https://tiinside.com.br/29/11/2021/pesquisa-mostra-que-lideres-de-ti-estao-deixando-a-seguranca-cibernetico-em-terceiro-plano/ > Acesso em 3 de dezembro de 2021.

[4] Disponível em < https://csprojetos.com/articles/a-inovacao-da-netflix-na-governanca-corporativa/> Acesso em 3 de dezembro de 2021.

[5] Disponível em < https://www.gazetadopovo.com.br/economia/fusoes-aquisicoes-brasil-registra-recorde-2021/ > Acesso em 3 de dezembro de 2021.

[6] Disponível em < https://www.folhavitoria.com.br/geral/noticia/12/2021/empresas-de-pequenas-e-medias-precisam-estar-atentas-a-seguranca-da-informacao> Acesso em 3 de dezembro de 2021.

[7] Tradução literal: “banho verde”. Consiste numa propaganda enganosa, na qual uma empresa se apropria de discursos ambientalistas, fazendo uso de técnicas de marketing, mas não realiza as mudanças prometidas.

[8] Disponível em < https://www.bbc.com/portuguese/geral-59306394> Acesso em 4 de dezembro de 2021.

[9] Disponível em https://exame.com/pme/shopper-supermercado-online-compensacao-carbono. Acesso em 21 de novembro de 2021.

[10] Disponível em < https://www.infomoney.com.br/consumo/via-viia3-cancela-campanha-publicitaria-da-black-friday-com-marilia-mendonca/> Acesso em 21 de novembro de 2021.

Referências

DIAS, Maria Clara. Shopper é primeiro supermercado do Brasil a compensar carbono da operação. Exame.invest, 19 de novembro de 2021. Disponível em: https://exame.com/pme/shopper-supermercado-online-compensacao-carbono/. Acesso em 21 de novembro de 2021.

DINO – DIVULGADOR DE NOTÍCIAS. Empresas de pequenas e médias precisam estar atentas a segurança da informação. Folha Vitória, 2 de dezembro de 2021. Disponível em: https://www.folhavitoria.com.br/geral/noticia/12/2021/empresas-de-pequenas-e-medias-precisam-estar-atentas-a-seguranca-da-informacao. Acesso em 3 de dezembro de 2021.

EQUIPE TÉCNICA. A inovação da Netflix na Governança Corporativa. C&S, projetos e mercados, 5 de janeiro de 2021. Disponível em: https://csprojetos.com/articles/a-inovacao-da-netflix-na-governanca-corporativa/. Acesso em 3 de dezembro de 2021.

INFOMONEY EQUIPE. Via (VIIA3) cancela campanha publicitária da Black Friday com Marília Mendonça. InfoMoney, São Paulo, 6 de novembro de 2021. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/consumo/via-viia3-cancela-campanha-publicitaria-da-black-friday-com-marilia-mendonca/. Acesso em 21 de novembro de 2021.

KRAMER, Vandré. País tem recorde de negócios entre empresas. Quais os motivos e o que vem pela frente. Gazeta do Povo, 6 de dezembro de 2021. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/fusoes-aquisicoes-brasil-registra-recorde-2021/. Acesso em 3 de dezembro de 2021.

LAWTON, George. 8 top enterprise risk management trends in 2021. SearchCIO, 12 de outubro de 2021. Disponível em https://searchcio.techtarget.com/feature/8-top-enterprise-risk-management-trends. Acesso em 28 de outubro de 2021.

REDAÇÃO. Pesquisa mostra que líderes de TI estão deixando a segurança cibernética em terceiro plano. tiinside, 29 de novembro de 2021. Disponível em: https://tiinside.com.br/29/11/2021/pesquisa-mostra-que-lideres-de-ti-estao-deixando-a-seguranca-cibernetico-em-terceiro-plano/. Acesso em 3 de dezembro de 2021.

TARDELLI, Eduardo. Gestão de risco e Big Data devem andar de mãos dadas. Canaltech, 6 de outubro de 2021. Disponível em: https://canaltech.com.br/gestao/gestao-de-risco-e-big-data-devem-andar-de-maos-dadas/. Acesso em 26 de outubro de 2021.

TIMMINS, BETH. Mudanças climáticas: sete maneiras de identificar empresas que não cumprem promessas. BBC News Brasil, 19 de novembro de 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-59306394. Acesso em 4 de dezembro de 2021.

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