Tenho observado um fenômeno cada vez mais presente nas discussões corporativas: a busca pelo equilíbrio entre vida pessoal e profissional. A série “Ruptura”, da Apple TV+, traz uma provocação extraordinária ao apresentar uma solução tecnológica radical – a separação literal entre essas duas esferas através de um implante cerebral.
Quando assisti à série, criada por Dan Erickson, não pude deixar de refletir sobre as implicações éticas dessa proposta. O programa, que conquistou 14 indicações ao Emmy Awards, expõe de forma brilhante os dilemas que todos nós enfrentamos no ambiente corporativo moderno.
Em minha experiência diária, vejo como profissionais contemporâneos lutam para estabelecer fronteiras saudáveis entre trabalho e vida pessoal. A pandemia intensificou ainda mais essa questão, com o home office dissolvendo as últimas barreiras físicas que separavam esses dois mundos.
A premissa da série questiona: seria eticamente aceitável uma tecnologia que divide sua consciência em duas versões distintas – uma para o trabalho e outra para a vida pessoal? Como profissional de compliance, preciso apontar que tal separação artificial viola princípios fundamentais da integridade humana e da transparência corporativa.
O personagem Mark Scout, interpretado por Adam Scott, nos mostra que essa divisão perfeita é, na verdade, uma ilusão perigosa. Você não pode – e não deve – fragmentar sua essência ética. Os valores que guiam suas decisões pessoais são os mesmos que devem nortear sua conduta profissional.
A série nos alerta sobre os riscos de soluções aparentemente simples para desafios complexos. Em vez de buscar uma separação artificial, precisamos construir uma integração saudável entre essas duas esferas. Isso significa desenvolver limites claros e respeito mútuo entre empresa e colaborador.
Você não precisa de um chip no cérebro para gerenciar melhor seu equilíbrio – precisa de cultura organizacional que respeite sua integridade como ser humano completo.
A verdadeira revolução não está na tecnologia que nos divide, mas na construção de ambientes corporativos que reconhecem e valorizam nossa humanidade integral. Como profissionais, precisamos defender esse equilíbrio, não através da separação, mas da integração consciente e respeitosa.
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Denise Debiasi é CEO da Bi2 Partners (conheça melhor aqui), reconhecida pela expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativas (saiba mais), conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção (saiba mais), antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte a litígios (saiba mais), entre outros serviços de primeira importância em mercados emergentes.