Quando auditorias e consultorias falham

Auditorias

Pode perceber que atrás de todo grande escândalo corporativo sempre há a atuação questionável das empresas de auditoria e consultoria, algumas de renome internacional. Isso acontece tanto no Brasil quanto no exterior. O público e a mídia sempre se perguntam quando explodem casos de fraudes contábeis com o poder de abalar as estruturas do mercado: como auditores e consultores não conseguiram ver que havia coisas muito erradas nas contas e nos planos de gestão das companhias?

O questionamento é pertinente pois a função das auditorias é justamente atestar a idoneidade das informações financeiras dos clientes. E a tarefa das consultorias é auxiliar na administração saudável de quem as contrata. 

Vejamos o que se passou na Americanas, o exemplo mais bombástico de cambalacho financeiro dos últimos anos no Brasil. A companhia varejista contratou uma grande companhia para auditar suas contas entre 2016 e 2019. Os auditores encontraram várias inconsistências contábeis, notificaram a alta administração da varejista sobre os problemas detectados e emitiram um comunicado para os acionistas. Sem receber quaisquer respostas do cliente por quase um mês, a companhia auditora teve o contrato de prestação de serviço inexplicavelmente rescindido. A alegação para o destrato foi uma mera razão comercial.

Outra empresa foi contratada no lugar para avaliar as contas da Americanas a partir de então. E para a nova empresa de auditoria, uma multinacional de fama internacional, não foi detectada nenhuma anomalia financeira que pudesse preocupar acionistas, diretores, fornecedores, clientes e bancos. Com o parecer favorável das contas da varejista, o mercado dormiu tranquilamente por mais três anos. Até que o novo presidente da Americanas encontrasse a fraude algumas semanas após assumir o cargo. Aí a bomba explodiu!

As perguntas que fazemos são: por que alguns auditores notaram os erros financeiros do cliente e outros não? Por que a auditoria que comunicou as falhas contábeis à alta direção teve o contrato rescindido? E o que ganhou a empresa de auditoria que não cumpriu sua obrigação de denunciar os crimes que a varejista estava praticando por anos?

As respostas para tais questões devem fazer parte do trabalho da área de compliance das empresas de consultoria e auditoria mundo à fora. Afinal, o que se passou na Americanas é o mesmo enredo de quase todas as fraudes financeiras recentes. Ou a crise da companhia brasileira é muito diferente do drama vivenciado quase que simultaneamente pela FTX?! Acredito que não. Olhando mais para trás, como as empresas de consultoria e auditoria deixaram passar outras falhas bisonhas nos balanços da WorldCom, Banco Nacional, Merck, Parmalat, Enron Corporation, EBX, Tyco e BRB?

Se as auditorias existem para zelar pela autenticidade das informações financeiras do mercado capitalista, quem é que zela pela credibilidade das empresas de auditoria? Essa é uma boa questão que precisamos fazer e exigir respostas de autoridades.

(*) CEO da Bi2 Partners, reconhecida pela expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativas, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte a litígios, entre outros serviços de primeira importância em mercados emergentes.

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