No ano de 2019, as chamadas M&A’s (Mergers and Acquisitions) bateram recorde no Brasil e a expectativa era de que, somente neste ano de 2020, as operações chegassem a 1.350.
Contudo, durante a pandemia da Covid-19, operações potenciais permaneceram suspensas, em sua grande maioria, sendo retomadas aos poucos a partir do segundo semestre do ano, tanto como solução para algumas empresas conseguirem manter suas operações, quanto para outras, bem capitalizadas, aproveitarem as oportunidades de aquisição a preços mais baixos, expandindo suas linhas de negócios e aumentando suas fatias de mercado.
E agora, no quarto trimestre de 2020, a previsão de M&A’s volta a ser otimista, já que o número de transações tem aumentado e a tendência é de que continue crescendo, com o recente anúncio de uma vacina com 90% de eficácia contra o Coronavírus, ainda que países europeus estejam enfrentando a segunda onda de contaminações com novos lockdowns e que o Brasil não esteja livre disso.
Esse contexto permite que o mercado continue otimista em relação às M&A’s para 2021, já que o momento é propício para investimentos em empresas buscando alternativas durante a crise, com potencial de recuperação de receitas no médio prazo.
Dados sobre fusões e aquisições
Alguns dados que contribuem ainda mais para o otimismo em relação a novas fusões e aquisições são o fato de a taxa Selic continuar a 2% ao ano, o que permite que as empresas consigam boas condições de financiamento.
O volume de operações, em agosto último, foi de 112 fusões e aquisições realizadas, número 65% superior ao mesmo mês em 2019 (68 operações). Somente de janeiro a agosto, houve um crescimento na participação de investidores nacionais (426 transações), número que representa uma alta de 24% em relação ao mesmo período de 2019. Dessas, 66% ocorreram somente na região Sudeste, sendo que 52% das operações se localizam em São Paulo[1]. Já os investidores estrangeiros fizeram 151 transações, o que representa uma queda de 4% em relação ao ano passado.
Esses números indicam que a quantidade de fusões e aquisições cresceu 46%[2] no trimestre passado (de julho a setembro de 2020) em relação ao mesmo período do ano anterior. Com isso, a previsão é de que ocorram ainda mais M&A’s em 2021 no Brasil no próximo ano, ultrapassando as mil operações.
Fusões e aquisições realizadas em 2020
Os setores que tiveram as maiores altas no total de transações em 2020 foram os das companhias de internet, tecnologia da informação, hospitais e laboratórios de análises clínicas e serviços empresariais. Já outros setores tiveram queda nos totais de transações, como os de energia, mídia e telecomunicações, alimentos, bebidas e fumo.
Apenas até o mês de setembro, foram registradas 100 fusões e aquisições de empresas startups no país, sendo esse número maior do que os de 2018 e 2019 somados. As principais empresas adquirentes de startups este ano são a Magazine Luiza (Estante Virtual, Hubsales, InLoco Media, AiQFome e Stoq), Sapore (Lucco Fit, Shipp, Zaitt) e XP Investimentos (Antecipa, Dm10, Fliper)[3].
Comprovando que o mercado permanece aquecido, seguem mais algumas operações recentes, ou prestes a acontecer:
- Rede D’Or São Luiz: anunciou a conclusão da aquisição do Hospital Aliança, em Salvador, no início deste semestre[4].
- PetLove: adquiriu a Vetus[5], plataforma de gestão de petshops e acaba de anunciar fusão com a DogHero para obter sinergias adicionais no setor de serviços[6].
- Nubank: adquiriu a EasyInvest, uma corretora digital. A compra ainda será aprovada pelos órgãos reguladores, o Banco Central e o CADE.
- Localiza e Unidas: ambas se fundiram e vão virar uma empresa avaliada em R$ 50 bilhões, se a fusão for aprovada pelo Cade.
Fonte: Valor Econômico[7]
B2W Marketplace: A empresa de comércio eletrônico, criada em 2006 pela fusão entre Submarino, Shoptime, Americanas.com e As Lojas Americanas, anunciou que irá investir parte da captação de R$ 4 bilhões em fusões e aquisições, sendo que uma possível aquisição é a do Supermercado Now[8].
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Fatores de estímulo às operações de Fusões e Aquisições em 2021
Geralmente, quando uma empresa realiza operações de fusão ou de aquisição, o objetivo maior é o de crescer; porém, com o cenário imposto pela pandemia da Covid-19, o desafio passa a ser o da sobrevivência das próprias empresas alvo, ainda que o pior da crise já tenha passado.
Empresas já sólidas estão focadas em absorver a capacidade tecnológica das startups, haja visto que a importância da tecnologia se tornou acentuada neste período, com muitas empresas tendo que se adaptar às pressas ao home office, o que boa parte das startups já fazia há muito tempo.
Assim, uma pode oferecer à outra o que tem de melhor: as empresas mais tradicionais toda a base e o conhecimento que possuem e as mais novas toda a sua capacidade de inovação e de alcançar os clientes atuais. Tudo isso sem contar com o benefício da maior eficiência e a conquista de mais clientes como forma de amenizar os impactos da recessão, tanto que as duas moedas de troca mais utilizadas estão sendo dinheiro ou ações.
Nesse contexto, 2021 será um ano de muitas oportunidades para fusões e aquisições de empresas no Brasil, tanto para as nacionais quanto para as estrangeiras. Internamente, além da taxa de juros favorável, o aumento de investimentos na Bolsa de Valores está estimulando o processo de abertura de capital, os famosos IPOs (Initial Public Offerings), proporcionando facilidade de captação e liquidez para compra de empresas para aumentar a vantagem competitiva de negócio e eliminar concorrentes.
Além disso, a atual taxa de câmbio, somada aos preços baixos de empresas brasileiras que buscam por sobrevivência ao longo da crise, torna as oportunidades de aquisição desses alvos ainda mais atraentes e baratas para o investimento estrangeiro.
Portanto, em 2021, adquirir uma empresa estabelecida no mercado brasileiro, com base significativa de clientes e reputação de marca, torna-se mais do que nunca uma estratégia promissora de entrada em um país com grandes desafios legais, tributários, trabalhistas e culturais, mas com inúmeros atrativos, para citar os principais:
- Tamanho da economia e do mercado interno
- Carência de serviços básicos, tecnologia e infraestrutura
- Expectativa de reformas políticas favoráveis ao ambiente de negócios
- Maior polo econômico da região
- Democracia consolidada
- Estabilidade jurídica
- Recursos naturais
- Indústria desenvolvida
- Aptidão tecnológica
Conclusão
Diante do cenário global de expectativas positivas em relação à pandemia e, principalmente, de oportunidades em diversos segmentos, o mercado de fusões e aquisições no Brasil se apresenta como um importante direcionador na retomada dos negócios e da economia.
Além dos segmentos já mencionados neste artigo, existem ainda expectativas de movimentações favorecidas pela situação cambial, na qual investidores internacionais podem alavancar operações até mesmo em setores mais resilientes historicamente, como os de energia e agronegócio.
Também se espera uma consolidação em segmentos não essenciais, como o de turismo, entretenimento e shopping centers, com empresas capitalizadas buscando ampliar sua atuação. Outros setores que prometem crescimento nas fusões e aquisições são: varejo, saúde e educação.
Vale lembrar que, para uma operação de fusão e aquisição ser bem-sucedida, algumas etapas do processo são indispensáveis e envolvem diferentes análises, usualmente oferecidas por assessoria especializada em M&As, apenas para citar algumas:
- Mercadológica e Sinergias de negócio
- Cultura empresarial
- Cenários econômicos e SWOT
- Modelagem financeira, com projeções de crescimento e rentabilidade
- Valoração da empresa (valuation)
- Riscos operacionais, trabalhistas, tributários, ambientais, de conformidade
Em geral, o processo de negociação nestas operações inclui a apresentação de um LOI (Letter of Intention, ou Carta de Intenção) e/ou assinatura de NDA (Non Disclosure Agreement, ou Acordo de Confidencialidade) para que a empresa compradora tenha acesso confidencial às informações sigilosas da empresa alvo.
Enquanto ocorrem as análises e avaliações, e de preferência antes de uma oferta vinculante de fusão ou aquisição, outra etapa essencial, sobre a qual a autora já escreveu em artigo anterior sobre o tema, a título de transparência entre as partes e em prol do sucesso da operação no longo prazo, é a do due diligence (ou diligência prévia) nas empresas envolvidas. O processo de due diligence assegura uma revisão independente e imparcial das análises realizadas e das informações obtidas pelas duas empresas.
Portanto, o cenário de operações de M&A no Brasil para 2021 é extremamente promissor, e devido às decisões urgentes que tiveram que ser tomadas pelas empresas ao longo da crise pandêmica, é ainda mais crítico oportuno ressaltar mais a importância de uma adequada e aprofundada condução dos processos de valuation e due diligence por empresas independentes e experientes como fator crítico de sucesso dessas operações.
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[1] Disponível em https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2020/10/14/pais-registra-em-agosto-recorde-de-fusoes-e-aquisicoes.htm. Acesso em 30 de outubro de 2020.
[2] Disponível em https://www.moneytimes.com.br/fusoes-e-aquisicoes-voltam-ao-radar-das-empresas-como-antidoto-para-crise. Acesso em 30 de outubro de 2020.
[3] Disponível em https://fdr.com.br/2020/10/27/startups-do-brasil-podem-estar-em-sua-melhor-fase-em-2020-qual-o-motivo. Acesso em 10 de novembro de 2020.
[4] Disponível em https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/rede-dor-anuncia-conclusao-da-aquisicao-do-hospital-alianca. Acesso em 30 de outubro de 2020.
[5] Disponível em https://atarde.uol.com.br/economia/noticias/2137979-fusoes-e-aquisicoes-de-empresas-crescem-no-segundo-semestre. Acesso em 10 de novembro de 2030.
[6] Disponível em https://www.istoedinheiro.com.br/petlove-anuncia-fusao-com-a-doghero-e-avanca-no-setor-de-servicos. Acesso em 10 de novembro de 2020.
[7] Disponível em https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/09/24/localiza-e-unidas-acertam-fusao.ghtml. Acesso em 30 de outubro de 2020.
[8] Disponível em https://www.agenciacma.com.br/b2w-investira-em-fusoes-e-aquisicoes-e-automacao-do-varejo-em-2021. Acesso em 30 de outubro de 2020.
Referências
DECLOEDT, Cynthia e GUIMARÃES, Fernanda. Pandemia acelera fusões e aquisições como remédio das empresas contra crise. Estadão, 22 de outubro de 2020. Disponível em: https://economia.estadao.com.br/blogs/coluna-do-broad/pandemia-acelera-fusoes-e-aquisicoes-como-remedio-das-empresas-contra-crise/. Acesso em 30 de outubro de 2020.
ESCOBAR, Cynara. B2W investirá em fusões e aquisições e automação do varejo em 2021. Agência CMA, São Paulo, 30 de outubro de 2020. Disponível em: https://www.agenciacma.com.br/b2w-investira-em-fusoes-e-aquisicoes-e-automacao-do-varejo-em-2021/. Acesso em 30 de outubro de 2020.
GUIMARÃES, L. Fusões e aquisições: cenário de 2020 e perspectivas para 2021. Pereira, Dabul Advogados. Disponível em: http://www.pereiradabul.adv.br/fusoes-e-aquisicoes-cenario-2020-2021/. Acesso em 30 de outubro de 2020.
MACHADO, Gabriela de Ávila. Aumento de fusões e aquisições reforça a importância do due diligence. Conjur, 29 de outubro de 2020. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-out-29/machado-aumento-fusoes-aquisicoes-valoriza-due-diligence. Acesso em 30 de outubro de 2020.
AMORIM, Daniela. País registra em agosto recorde de fusões e aquisições. UOL, Rio de Janeiro, 14 de outubro de 2020. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2020/10/14/pais-registra-em-agosto-recorde-de-fusoes-e-aquisicoes.htm. Acesso em 30 de outubro de 2020.
REUTERS. Fusões e aquisições voltam ao radar das empresas como antídoto para a crise. Money Times, 7 de outubro de 2020. Disponível em: https://www.moneytimes.com.br/fusoes-e-aquisicoes-voltam-ao-radar-das-empresas-como-antidoto-para-crise/. Acesso em 30 de outubro de 2020.
SOUZA, Marcos de Moura e, BRANDÃO, Raquel e BRAUN, Daniela. Localiza e Unidas acertam fusão. Valor Econômico, Belo Horizonte e São Paulo, 24 de setembro de 2020. Disponível em: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/09/24/localiza-e-unidas-acertam-fusao.ghtml. Acesso em 30 de outubro de 2020.
