Fusões e Aquisições no Setor de Saúde

Fusões e Aquisições no Setor de Saúde

Em 2020, houve uma movimentação de R$ 229 bilhões em transações de fusões e aquisições de empresas. Em contrapartida, apenas entre janeiro e junho de 2021, essa movimentação foi de R$ 258 bilhões, o que representa um crescimento de 48%[1]. E, desse valor, as fusões e aquisições no setor de saúde cresceram mais de 25 vezes, somando R$56,7 bilhões. Ou seja, o setor de saúde – bem como os setores de tecnologia e logística – são os “carros-chefes” das M&As atuais (sigla em inglês para Mergers and Acquisitions, que significa, em português, Fusões e Aquisições). Como exemplo, temos a fusão entre a Notre Dame Intermédica e a Hapvida, no valor de $9,58 bilhões, considerada o sétimo maior negócio em mercados emergentes[2].

Uma curiosidade é que boa parte dos investimentos está vindo do bolso de investidores estrangeiros, que desembolsaram R$65,1 bilhões comprando ações de empresas brasileiras, somente no primeiro trimestre deste ano (2021), segundo dados da B3. Já os investidores domésticos ficaram mais receosos por causa da taxa de juros de referência ter subido de 2% para 4,25%[3].

Mas, voltando às M&As no setor de saúde: a seguir serão apresentadas algumas das operações que ocorreram.

Fusão entre Notre Dame Intermédica e Hapvida

Essa fusão, considerada a “cereja do bolo” do setor de saúde, tem como protagonistas duas empresas com um dos maiores crescimentos nos últimos anos, sendo que cada uma possui cerca de 9% de participação no mercado, o que significa que agora o market share das duas somadas atingirá 18%. Interessante também é que a Notre Dame estava com planos de expansão para o nordeste do país, tendo já uma forte atuação nas regiões Sudeste e Sul, enquanto que a Hapvida estava com planos de expansão para o Sudeste, tendo já uma forte atuação no Nordeste. Com a fusão, o processo de expansão se acelera e elimina duplicidades, além do tamanho da empresa que agora ambas formam, com uma enorme quantidade de clientes que irão passar a contratar seus serviços nas diversas regiões que passarão a cobrir, através da capacidade de oferecer valores competitivos, devido à escala na contratação com fornecedores e graças às suas estruturas verticalizadas, que permitem manter maior controle dos custos e oferecer maior qualidade nos serviços[4].

Além disso, em Belo Horizonte, o Grupo Notre Dame Intermédica investiu R$240 milhões na compra do LifeCenter, um hospital com 205 leitos, sendo 40 de UTI, 13 salas cirúrgicas e 12 consultórios de pronto atendimento, com investimento somente no estado de Minas Gerais, na casa dos R$1,7 bilhões[5].

Por outro lado, ambas as empresas possuem uma dívida conjunta de cerca de R$648 milhões com o SUS[6], a qual alegam ser indevida, ainda assim, a recomendação de compra de suas ações, segundo o BTG Pactual, era de R$ 99,00 para a Notre Dame Intermédica e de R$ 19,00[7] para a da Hapvida no início de agosto de 2021.

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Contrato entre Rede D’Or e Vale[8]

A Rede D’Or assinou um contrato de prestação de serviços com a Vale objetivando realizar a gestão e o atendimento de saúde em dois hospitais do Pará: o Hospital Yutaka Takeda, em Parauapebas, e o Hospital Cinco de Outubro, em Canaã dos Carajás. O valor estratégico desse contrato apresenta como detalhes o fato da Rede D’Or conseguir expandir para outro estado do país e estabelecer um novo tipo de parceria entre um seguro de saúde de autogestão e gestão de empresas e hospitais. Além disso, ela também pode trazer maiores benefícios econômicos, com a Rede D’Or expandindo a complexidade e a infraestrutura hospitalar em uma região que abriga grandes investimentos da Vale.

O contrato em questão é válido por 10 anos e inclui uma parceria na construção ou na aquisição de um hospital para fornecer serviços de saúde de alta complexidade em Parauapebas (cidade “lar” da Vale). Um detalhe importante, também, que levou a essa parceria, é que os planos privados de saúde cresceram 13% na cidade no último ano e é um dos locais em que a aquisição de planos de saúde mais cresce no Brasil.

Com essa operação, a Rede D’Or supera a orientação de M&A fornecida em seu IPO, que é a da aquisição de mil leitos por ano nos próximos cinco anos. Porém, desde o pedido de IPO em 2020, a empresa comprou 10 ativos e 1,5 mil leitos hospitalares, adicionando quatro estados à cobertura nacional.

A recomendação de compra da Rede D’Or, segundo o Bradesco BBI, era de R$82,00 no início de agosto de 2021.

As aquisições da Mater Dei

No começo do mês de julho de 2021, a Mater Dei anunciou a aquisição de 70% do Grupo Porto Dias, que é a maior rede privada de hospitais da região norte do país, detendo os Hospitais Porto Dias, Porto Dias Diagnósticos por Imagem, Medical Comercial e Medicina Desportiva e Diagnósticos por Imagem. Com isso, o Grupo Porto Dias espera ter 592 leitos em 2022. O preço da compra foi de R$800 milhões, além da emissão de 27 milhões de ações da Mater Dei em favor dos acionistas do Grupo Porto Dias[9].

Ao abrir capital na B3 e levantar R$1,2 bilhão com a venda de 23% da empresa, a Mater Dei prometeu adicionar 1,5 mil leitos aos 1081 da região metropolitana de BH. De acordo com o presidente da empresa, a Mater Dei, além das aquisições, pretende também construir. Outro detalhe é que somente entre março e abril de 2021, a Mater Deis inaugurou 350 leitos de internação para pacientes com Covid-19 em suas unidades localizadas na região metropolitana de BH. Ela também é marcada por ter sido pioneira na implementação dos serviços de teleatendimento para pacientes com sintomas de Covid-19. Essa tecnologia foi realizada em parceria com a prefeitura do município de Belo Horizonte para pessoas que não têm acesso aos planos de saúde[10].

A recomendação de compra da Mater Dei, segundo a BTG Pactual, passou de R$ 24 para R$ 27[11].

Criação do G500[12]

Em Goiânia, cinco hospitais privados uniram-se para formar um grupo denominado G500 (o nome advém do fato de que, juntos, os hospitais passam a oferecer 500 leitos), com o intuito de se tornar o maior setor de saúde em Goiás, com valor de mercado de R$1,2 bilhão. Os Hospitais que compõe o Grupo são: Ela Maternidade, Hospital dos Acidentados, Hospital da Criança, Hospital do Coração e Hospital Santa Mônica.

A ideia da união surgiu pelo fato dessas empresas receberem constantes abordagens de empresas ou pessoas externas querendo comprar algum dos hospitais. Assim, a união objetiva o fortalecimento, uma oportunidade de oferecer serviços de melhor qualidade e o aumento da geração de empregos.

Conclusão

O setor de saúde está aquecido com a quantidade de fusões e aquisições que vêm ocorrendo e que tendem a aumentar dado o aumento no reconhecimento da importância desse setor por parte do público brasileiro. Médicos e enfermeiros estão, inclusive, sendo vistos como os novos heróis e investimentos em saúde só tendem a crescer.

Assim, para quem deseja realizar investimentos, as empresas de saúde são uma boa pedida, porém é sempre bom avaliar como está a situação da empresa em questão para evitar problemas e imprevistos. No caso da Notre Dame Intermédica e da Hapvida, por exemplo, embora a operação de fusão entre as duas seja considerada a “cereja do bolo”, como já foi dito, a dívida que elas apresentam com o SUS pode representar uma falha grave do programa de compliance e a ausência da realização de um due diligence. Por isso insistimos tanto na atenção a esses dois processos de mitigação de riscos.

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[1] Disponível em https://einvestidor.estadao.com.br/negocios/fusoes-aquisicoes-crescem-2021.Acesso em 23 de julho de 2021.

[2] Disponível em https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/07/02/brasil-ve-boom-em-negocios-de-fusoes-e-aquisicoes-puxados-por-energia-varejo-e-saude.ghtml. Acesso em 23 de julho de 2021.

[3] Disponível em https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/07/02/brasil-ve-boom-em-negocios-de-fusoes-e-aquisicoes-puxados-por-energia-varejo-e-saude.ghtml. Acesso em 23 de julho de 2021.

[4] Disponível em https://www.moneytimes.com.br/entenda-como-a-fusao-entre-notredame-e-hapvida-pode-ser-transformacional-para-o-setor-de-saude. Acesso em 30 de julho de 2021.

[5] Disponível em https://www.revistaencontro.com.br/canal/revista/2021/07/mercado-de-saude-em-bh-esta-em-ebulicao.html. Acesso em 28 de julho de 2021.

[6] Disponível em https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2021/07/4935282-planos-de-saude-devem-rs-29-bi-ao-sus-valor-compraria-58-milhoes-de-vacinas.html. Acesso em 30 de julho de 2021.

[7] Disponível em https://www.btgpactualdigital.com/analises/analises-de-acoes/lista. Acesso em 30 de julho de 2021.

[8] Disponível em https://www.infomoney.com.br/mercados/rede-dor-faz-parceria-inedita-com-a-vale-e-pode-expandir-horizontes-se-modelo-for-bem-sucedido-apontam-analistas. Acesso em 23 de julho de 2021.

[9] Disponível em https://www.infomoney.com.br/mercados/mater-dei-compra-da-maior-rede-privada-de-hospitais-da-regiao-norte-e-passo-importante-para-companhia-dizem-analistas.  Acesso em 30 de julho de 2021.

[10] Disponível em https://www.revistaencontro.com.br/canal/revista/2021/07/mercado-de-saude-em-bh-esta-em-ebulicao.html. Acesso em 28 de julho de 2021.

[11] Disponível em https://www.infomoney.com.br/mercados/mater-dei-compra-da-maior-rede-privada-de-hospitais-da-regiao-norte-e-passo-importante-para-companhia-dizem-analistas.  Acesso em 30 de julho de 2021.

[12] Disponível em https://sagresonline.com.br/cinco-empresas-formarao-maior-grupo-hospitalar-de-goias/. Acesso em 28 de julho de 2021.

Referências

BTG Pactual. Análise de ações. Disponível em https://www.btgpactualdigital.com/analises/analises-de-acoes/lista. Acesso em 30 de julho de 2021.

CHENG, Diana. Entenda como a fusão entre NotreDame e Hapvida pode ser transformacional para o setor de saúde. Money Times, 18 de junho de 2021. Disponível em https://www.moneytimes.com.br/entenda-como-a-fusao-entre-notredame-e-hapvida-pode-ser-transformacional-para-o-setor-de-saude. Acesso em 30 de julho de 2021.

DUARTE, Alessandro. Mercado de saúde em BH está em ebulição. Revista Encontro, 27 de julho de 2021. Disponível em https://www.revistaencontro.com.br/canal/revista/2021/07/mercado-de-saude-em-bh-esta-em-ebulicao.html. Acesso em 28 de julho de 2021.

EQUIPE INFOMONEY. Rede D’Or faz parceria inédita com a Vale e pode expandir horizontes se modelo for bem-sucedido, apontam analistas. InfoMoney, 22 de julho de 2021. Disponível em https://www.infomoney.com.br/mercados/rede-dor-faz-parceria-inedita-com-a-vale-e-pode-expandir-horizontes-se-modelo-for-bem-sucedido-apontam-analistas. Acesso em 23 de julho de 2021.

REUTERS. Brasil vê boom em negócios de fusões e aquisições, puxados por energia, varejo e saúde. G1, 2 de julho de 2021. Disponível em https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/07/02/brasil-ve-boom-em-negocios-de-fusoes-e-aquisicoes-puxados-por-energia-varejo-e-saude.ghtml. Acesso em 23 de julho de 2021.

RIZÉRIO, Lara. Mater Dei: compra da maior rede privada de hospitais da região norte é passo importante para companhia, dizem analistas. InfoMoney, 7 de julho de 2021. Disponível em https://www.infomoney.com.br/mercados/mater-dei-compra-da-maior-rede-privada-de-hospitais-da-regiao-norte-e-passo-importante-para-companhia-dizem-analistas. Acesso em 30 de julho de 2021.

SOARES, Rebeca. Fusões e aquisições brasileiras crescem 48% no primeiro semestre. Estadão, 23 de julho de 2021. Disponível em https://einvestidor.estadao.com.br/negocios/fusoes-aquisicoes-crescem-2021.  Acesso em 23 de julho de 2021.

SOUZA, Marcelle. Planos de saúde devem R$2,9 bi ao SUS; valor compraria 58 milhões de vacinas. Correio Braziliense, 3 de julho de 2021. Disponível em  https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2021/07/4935282-planos-de-saude-devem-rs-29-bi-ao-sus-valor-compraria-58-milhoes-de-vacinas.html. Acesso em 30 de julho de 2021.

STRAIOTO, Samuel. Cinco empresas formarão maior grupo hospitalar de Goiás. Sagres, 28 de julho de 2021. Disponível em https://sagresonline.com.br/cinco-empresas-formarao-maior-grupo-hospitalar-de-goias. Acesso em 28 de julho de 2021.

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