ESG: O que é e Por Que se Tornou Tão Estratégico para os Negócios

ESG

O ESG, do inglês Environmental, Social and Governance, ou ASG em português, “Ambiental, Social e Governança” vem cada vez mais se tornando um assunto a ser tratado dentro das empresas como essencial para a responsabilidade corporativa e estratégia de negócio.

Como o termo ESG surgiu e porque se tornou estratégico?

Após o Fórum Econômico de 2020[1], em Davos na Suíça, o propósito da sustentabilidade, que além dos fatores ESG, abrange também os 17 ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030[2], passou a ser uma das prioridades para as agendas corporativas a fim de incorporar demandas atuais e futuras, não apenas de seus acionistas, mas de colaboradores, consumidores, fornecedores e demais stakeholders (todas as partes impactadas pelo negócio).

A publicação Who Cares Wins[3] (Quem se Importa Vence), endossada publicamente em 2004 por 20 instituições financeiras somando ativos de mais de US$ 6 trilhões, introduziu diretrizes sobre como integrar questões ESG à análise e gestão de investimentos. E desde a criação do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da [B]³, em 2005, foi constatado que a carteira ESG subiu 296% enquanto a Bolsa como um todo subiu 223%, até meados de 2020. Uma pesquisa recente, realizada pelo Bank of America (BofA), sobre hábitos e comportamentos da Geração Z, no Brasil e em mais 9 países de vários continentes, revelou que os jovens priorizam questões de sustentabilidade, sendo que 80% consideram fatores ESG nas decisões de investimento e consumo. Nesse sentido, o termo também vem se tornando estratégico para a reputação de marca e gestão de negócios.

Em pesquisa intitulada Construindo Nosso Futuro[4], com 1100 jovens brasileiros de, em média, 28 anos, foram entrevistados sobre o que consideravam mais importante para uma empresa que visasse o futuro. O resultado mostrou que cerca de 85% deles consideraram ser essencial que organizações públicas e privadas assumam a responsabilidade por padrões de éticas sociais, ambientais, de governança e de tecnologia. Ainda, pelo menos 45% disseram que pretendem votar em, ou apoiar, candidatos que se comprometam a combater a crise climática e que venham a demonstrar liderança responsável e sustentável, sendo que quase 34% atestaram que esse ou essa líder deve se preocupar em representar e/ou abraçar a diversidade e a inclusão.

Quanto às empresas, e principalmente aos bancos, pelo menos 53% dos jovens acreditaram que essas instituições deveriam parar de apoiar a expansão dos combustíveis fósseis através de empréstimos e outros serviços. Tendo esse objetivo em vista, 21% pretendem fazer parte de um negócio de impacto social, enquanto quase 20% se interessam em se voluntariar para uma Organização da Sociedade Civil (OSC, anteriormente denominadas ONGs) ou afim. Finalmente, cerca de 15% expressaram que desejam trabalhar em uma organização internacional.

Ou seja, esses jovens, que estão ingressando no mercado de trabalho, não querem “apenas” trabalhar; eles querem fazer parte de um ambiente de trabalho cuja empresa pratique os pilares ESG. Nesse sentido é importante ressaltar que com o acesso facilitado à dados que temos hoje e levando-se em consideração que essa geração já nasceu em um mundo empoderado pela tecnologia da informação, é muito fácil para eles pesquisarem o propósito e os objetivos de uma empresa e decidirem se querem empreender seus talentos a seu favor ou não. Esses jovens hoje em dia, são muito mais afetados por questões sociais, éticas e climáticas do que gerações anteriores e, portanto, muito mais conscientes, preocupados e questionadores do status quo, o que significa que empresas que não refletirem essa consciência ou que não oferecerem espaço a esses jovens para que proponham soluções inovadoras para os problemas que os afligem, serão preteridas.

Por outro lado, a pandemia de Covid-19, especialmente aqui no Brasil, trouxe à tona diversos problemas, como a dificuldade do ensino à distância, pois nem todos os jovens possuem fácil acesso à internet. Com escolas e universidades fechadas há mais de um ano, uma boa parcela desses jovens está com sua formação comprometida, o que traz como consequência uma possível diminuição na quantidade de profissionais qualificados para ocupar cargos necessários nas empresas. Assim, as empresas agora deverão pensar não apenas em gerar renda e lucro, mas também em assumir compromissos com o desenvolvimento sustentável, que está diretamente relacionado ao ESG.

Como vimos, é cada vez mais necessário que uma empresa represente a sociedade quanto à diversidade e que ela conheça o contexto dos consumidores, suas mudanças de hábitos e aspirações, bem como as práticas que impactam o meio ambiente e que podem minar a credibilidade e reputação de marca. Portanto, o ESG passa a ser um foco importante a ser incorporado com urgência à gestão de riscos nas empresas e a ser reforçado por suas políticas de compliance.

Colocando o ESG em prática

Assim, quais são as perguntas que uma empresa deve se fazer para começar a colocar o ESG em prática, lembrando que essas iniciativas devem ser consideradas essenciais para um programa de amadurecimento cultural na empresa[5]?

No pilar ambiental

  • Qual o impacto ambiental que a empresa exerce?
  • Quais as tecnologias existentes que podem contribuir para reduzir o impacto ambiental da empresa?

No pilar social

  • Como está o turnover?
  • Que qualidade de vida está sendo oferecida aos colaboradores?
  • A empresa representa a sociedade em termos de diversidade?
  • Quais iniciativas da empresa permitem uma melhor condição de vida para a comunidade?

No pilar da governança

  • Há metas estratégicas conectadas ao ESG?
  • A empresa incentiva as práticas sociais e ambientais em todas as áreas?
  • Quais foram as últimas iniciativas relacionadas ao ESG implantadas?
  • Os executivos possuem indicadores de performance ESG atrelados à sua remuneração?

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Casos recentes que reforçam a necessidade da incorporação do ESG à gestão de riscos e negócios

A empresa de engenharia MRV[6] poderia ser considerada um exemplo de empresa que pratica o ESG, devido a alguns de seus projetos, como o de levar energia fotovoltaica à população de baixa renda, por meio do projeto “Minha Casa Minha Vida” ou “Casa Verde Amarela”. Ela também instala painéis solares nos telhados dos prédios econômicos, transformando energia solar em elétrica, sendo que, ao fim do mês, a energia produzida é abatida da conta de luz. Atualmente, esse sistema está implantado em 39 condomínios. Além disso, a MRV trabalha na construção de seis usinas fotovoltaicas em Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Bahia e destinou mais de R$ 5 milhões (correspondente a 160 mil mudas) para o plantio de árvores somente em 2020. Dentre os programas criados por elas estão a “Escola Nota 10”, que alfabetiza funcionários nos canteiros de obras, e o “Iungo”, que capacita educadores da rede pública de ensino.

Essas atitudes trouxeram reconhecimento à empresa, mas uma falha nas práticas ESG, dentro do pilar da Governança, está prejudicando sua reputação: a denúncia de trabalho escravo[7]. A responsável pelo problema foi uma empresa de recrutamento contratada pela MRV, que pagava apenas o piso salarial para os trabalhadores de um empreendimento em Porto Alegre e em São Leopoldo, ambas no estado do Rio Grande do Sul. A empresa prometia salários de R$ 3 mil a R$ 4 mil, desde que os funcionários atingissem uma determinada meta de produtividade, o que não aconteceu. Esses trabalhadores também tinham que pagar a recrutadora e recebiam descontos em cobrança por uma espécie de cesta básica. Essas condições tornavam quase impossível que os trabalhadores conseguissem abandonar o trabalho e voltar para o seu estado de origem, o Maranhão.

Embora a MRV não tenha sido a responsável direta pelo ocorrido, ela acabou sendo notificada pela Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), do Ministério da Economia, para efetuar a regularização e a rescisão dos contratos de trabalho dos trabalhadores. A justificativa para tanto é a de que uma empresa é responsável não somente pela integridade de suas atividades, mas pela das empresas parceiras de operação em toda a cadeia produtiva, sendo responsável pela seleção e checagem de não conformidades ESG destas fornecedoras e terceirizadas.

Sendo assim, A MRV também teve que pagar a diferença salarial entre o piso oferecido e o piso que estava sendo pago, além de ter que pagar o cartão-alimentação e os créditos trabalhistas e ter de recolher o FGTS e a Contribuição Social correspondente ao tempo de atuação de cada trabalhador. Por fim, a MRV teve que garantir e custear o retorno desses trabalhadores ao Maranhão.

Conforme outros artigos da BRG, isso demonstra a importância de se realizar o due diligence antes de uma empresa contratar uma terceira, para garantir que o serviço ou produto fornecido também esteja dentro de padrões morais e éticos. Sendo assim, não basta apenas a empresa principal se preocupar em ter um bom programa de compliance e implantar o ESG; suas contratadas também devem estar em conformidade com suas exigências, cabendo à empresa principal monitorá-las de tempos em tempos para minimizar o risco de incorrer no mesmo problema da MRV.

Correções de políticas de governança e outras ações de ESG no Carrefour[8]

Após o escândalo do espancamento e morte de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, por dois funcionários de uma empresa de segurança terceirizada em um hipermercado da rede em Porto Alegre (RS), O Carrefour emitiu uma nota pública dizendo que não tolera qualquer tipo de discriminação, porém, sua imagem pública e reputação junto à opinião pública ficaram bastante prejudicadas, haja visto os boicotes realizados contra a rede de hipermercados e as perdas financeiras sofridas.

Um dos problemas de governança identificados foi que um dos seguranças acusados do homicídio era um ex-PM que não tinha registro de segurança profissional, evidenciando uma falha no processo de contratação e mostrando a necessidade do trabalho em conjunto do setor de RH com o compliance da empresa, para qualquer nível de contratação, própria ou terceirizada.

Na tentativa de correção dos processos e amadurecimento da cultura interna para evitar ocorrências dessa dimensão de gravidade, o Carrefour iniciou um processo de aprimoramento de suas políticas e práticas de combate à discriminação racial, segurança alimentar, economia circular, cadeia de valor, diversidade, educação e energia.

Nesse sentido, um novo relatório de sustentabilidade foi projetado para estabelecer objetivos que vão desde o comprometimento da alta gestão até os colaboradores das unidades da rede, atestando para cada enaltecimento de avanços no sentido do ESG, o reconhecimento de alguma falha. Essa é uma atitude difícil para as empresas de modo geral, porém necessária para restabelecimento de confiança com os consumidores e sociedade, a de reconhecer que foi cometido um erro gravíssimo, mas que estão sendo dados passos importantes para a gestão de riscos e reputação de marca.

Em relação ao Ambiental, o Carrefour conseguiu neutralizar parte das emissões de gases revendo a malha logística, limitando a rota dos caminhões nas estradas. Sendo também o primeiro comprador de carnes no Brasil, segundo Stéphane Engelhard, vice-presidente de relações institucionais, que começou a monitorar as fazendas de onde vêm as carnes dos frigoríficos, além de, internamente, organizar uma frente comum de luta contra o desmatamento junto com o Atacadão. O Carrefour também tem como objetivo reciclar 70% dos resíduos materiais. Por fim, na cadeia produtiva, a empresa tem como um dos objetivos principais, garantir o não uso de mão de obra escrava, entre outros esforços para a conformidade.

Sendo um dos dez maiores empregadores do país, a empresa fechou parcerias com o Sesc e o Senac para se comprometer com um projeto de combate à fome, e está oferecendo uma plataforma de inclusão com atenção especial às mulheres, negros, LGBTQIA+ e PCD, sendo que em junho de 2021, o Carrefour lançou um edital de estímulo à equidade racial.

Conclusão

O ESG vem se tornando cada vez mais um critério chave para diversos públicos interessados em uma organização avaliarem quanto ela busca minimizar prejuízos ao meio ambiente, contribuir para uma sociedade mais justa e responsável e implementar melhores práticas de gestão e governança.

Os jovens brasileiros querem empresas mais sustentáveis, inclusivas e responsáveis e no evento Summit ESG[9], realizado pelo Estadão, os especialistas entrevistados concordaram que o papel social das empresas vai além da definição de salários, sendo também necessário que elas olhem para a cadeia de fornecedores (o que a MRV deixou de fazer) e a relação com a comunidade (o que o Carrefour está buscando fazer).

Por fim, a adoção de práticas ESG possui um potencial muito maior do que o imaginado, sendo capaz de impactar famílias e comunidades, pois levando em consideração que o estilo de vida atual é pautado por mais tempo no trabalho do que em casa com a família, um funcionário que se sente bem na empresa, que recebe oportunidades de acordo com o seu desempenho, independente de gênero, orientação sexual, cor ou deficiência, tende a levar essa confiança e sensação de bem-estar para casa, influenciando positivamente na sua forma de relacionar com as pessoas a sua volta. Pode até parecer um sonho, mas se a adoção dessas práticas nos permite isso, é porque a possibilidade é real.

Conheça a Consultoria de ESG (StratESGy®) da Bi2 Partners. Se preferir, entre em contato direto: [email protected]+55 11 96476-9418.


[1] Disponível em https://www.weforum.org/events/world-economic-forum-annual-meeting-2020. Acesso em 17 de junho de 2021

[2] Disponível em https://odsbrasil.gov.br/. Acesso em 17 de junho de 2021

[3] Disponível em https://d306pr3pise04h.cloudfront.net/docs/issues_doc%2FFinancial_markets%2F who_cares_who_wins.pdf. Acesso em 17 de junho de 2021.

[4] Disponível em https://epocanegocios.globo.com/Sustentabilidade/noticia/2021/06/pesquisa-revela-preocupacao-de-jovens-com-politicas-de-esg-nas-empresas.html. Acesso em 17 de junho de 2021.

[5] Disponível em https://mercadoeconsumo.com.br/2021/06/15/esg-na-pratica/. Acesso em 18 de junho de 2021.

[6] Disponível em https://www.mrv.com.br/sustentabilidade/pt/mrv-sustentavel#cards_mrv. Acesso em 18 de junho de 2021.

[7] Disponível em https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2021/05/22/operacao-resgata-16-homens-de-condicoes-analogas-a-escravidao-em-porto-alegre-e-sao-leopoldo-diz-mpt.ghtml. Acesso em 18 de junho de 2021.

[8] Disponível em https://www.consumidormoderno.com.br/2021/06/17/entenda-como-carrefour-esta-quebrando-o-ultimo-tabu-do-esg/. Acesso em 18 de junho de 2021.

[9] Disponível em https://www.msn.com/pt-br/dinheiro/other/summit-esg-d%C3%A9cada-do-fazer-deve-engajar-empresas-para-reduzir-desigualdades/ar-AAL6WWw?li=AAggXC1. Acesso em 17 de junho de 2021.

Referências

CONSTANCIO, Felippe. Entenda como Carrefour está quebrando o último tabu do ESG. Consumidor Moderno, 17 de junho de 2021. Disponível em: https://www.consumidormoderno.com.br/2021/06/17/entenda-como-carrefour-esta-quebrando-o-ultimo-tabu-do-esg. Acesso em 18 de junho de 2021.

ÉPOCA NEGÓCIOS ONLINE. Pesquisa revela preocupação de jovens com políticas de ESG nas empresas. Época Negócios, 17 de junho de 2021. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Sustentabilidade/noticia/2021/06/pesquisa-revela-preocupacao-de-jovens-com-politicas-de-esg-nas-empresas.html. Acesso em 17 de junho de 2021.

G1 RS e RBS TV. Operação resgata 16 homens de condições análogas à escravidão em Porto Alegre e São Leopoldo, diz MPT. G1, 22 de maio de 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2021/05/22/ operacao-resgata-16-homens-de-condicoes-analogas-a-escravidao-em-porto-alegre-e-sao-leopoldo-diz-mpt.ghtml. Acesso em 18 de junho de 2021.

LEAL, Kariny. ESG é a nova tecnologia dos negócios, defende Eduardo Melzer, da EB Capital. Forbes, 17 de junho de 2021. Disponível em: https://forbes.com.br/forbes-money/2021/06/esg-e-a-nova-tecnologia-dos-negocios-defende-eduardo-melzer-da-eb-capital. Acesso em 18 de junho de 2021.

MARQUES, Júlia. Summit ESG: ‘Década do fazer’ deve engajar empresas para reduzir desigualdades. MSN, 16 de junho de 2021. Disponível em: https://www.msn.com/pt-br/dinheiro/other/summit-esg-d%C3%A9cada-do-fazer-deve-engajar-empresas-para-reduzir-desigualdades/ar-AAL6WWw?li=AAggXC1. Acesso em 17 de junho de 2021.

MARTINS, Renata. ESG na prática. Mercado & Consumo, 15 de junho de 2021. Disponível em: https://mercadoeconsumo.com.br/2021/06/15/esg-na-pratica. Acesso em 18 de junho de 2021.

MRV SUSTENTABILDIADE. Disponível em:  https://www.mrv.com.br/ sustentabilidade/pt/mrv-sustentavel#cards_mrv. Acesso em 18 de junho de 2021.

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