Desafios da integridade e da transparência nas novas tecnologias

Transparência

Já discutimos aqui na coluna como o surgimento da Inteligência Artificial (AI) trouxe novos dilemas para a sociedade e como as dificuldades para os responsáveis entrarem em consenso sobre como utilizá-la. Em uma sexta-feira de novembro de 2023, Sam Altman, CEO da OpenIA e provavelmente o mais badalado executivo do mercado de tecnologia da atualidade, foi demitido. O motivo do surpreendente desligamento? Uma discordância filosófica dentro da companhia. De acordo com um comunicado do Conselho de Administração da empresa, Altman “não era consistente nas comunicações com o Conselho”, o que prejudicava o trabalho dos conselheiros e os levava a não confiar mais “na habilidade de liderar a OpenIA” do presidente.

A OpenIA foi fundada em 2015 com a missão de “garantir que a IA beneficie toda a humanidade”. Será essa ideia possível? Altman sempre se identificou com as pessoas a favor do progresso irrestrito da IA. Os “aceleracionistas”, como esse grupo é popularmente conhecido, afirmam que a IA beneficiará toda a humanidade. Trata-se de uma expectativa ambiciosa quando pensamos em transparência e ética. Quem nos garante que a tecnologia está programada para não beneficiar parcelas específicas da sociedade? O que assegura a transparência dentro desses processos? Nossos dados e informações estão protegidos?

Eu não sou a primeira pessoa a fazer tais questionamentos. Os “IA doomers”, grupo mais cauteloso com a aplicação prática das novidades tecnológicas (e justamente a corrente de pensamento de boa parte dos conselheiros da OpenIA), propõem um olhar mais sensível para os impactos negativos da Inteligência Artificial. Eles estão preocupados com a possibilidade de o desenvolvimento rápido da IA não acompanhar questões éticas, de transparência dos dados e de direitos autorais. Haveria riscos de se provocar gigantescos malefícios? A IA não poderia ser treinada para funcionar de acordo com princípios de ética e transparência?

Os desafios com o surgimento das novas tecnologias são grandes, e ainda temos poucas certezas sobre seus potenciais malefícios em longo prazo. Com o crescimento acelerado da Inteligência Artificial, a dificuldade para se assegurar integridade, ética e transparência aumentaram. Então, tomar uma decisão em busca de preservar os valores virtuosos pode entrar em conflito com a missão e os interesses na empresa. Assim, temos um dilema moral: como manter a integridade e, ao mesmo tempo, atender às demandas do negócio?

Esse desalinhamento interno teve grande repercussão. Famosos do Vale do Silício, como Paul Graham e Ron Cownway, declararam desconforto com a demissão de Altman. Investidores, como Reid Hoffman e Vinod Khosla, afirmaram que não foram avisados da decisão e pediram o retorno do chefe-executivo da OpenIA. O ex-presidente do Google, Eric Schmidt, comparou a situação com o que ocorreu na Apple, em 1985, quando Steve Jobs foi afastado. Além da pressão da opinião pública e dos acionistas, 95% dos funcionários assinaram uma carta exigindo o retorno imediato de Altman e uma mudança no Conselho de Administração. A mensagem deles era clara: isso ou o pedido de demissão de quase todos os funcionários.

Cinco dias depois, por pressões externas e internas, Altman estava de volta e o Conselho de Administração foi reestruturado. Esse episódio demonstra a importância de o Conselho estar alinhado aos interesses dos acionistas e da opinião pública. Agora o desafio da OpenIA é restaurar a confiança do mercado para seu negócio e seus produtos.

Denise Debiasi é CEO da Bi2 Partners, reconhecida pela expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativas, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte a litígios, entre outros serviços de primeira importância em mercados emergentes.

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