Cultura para ética e integridade: O que seus funcionários fazem quando testemunham desvios de conduta?

A má conduta no local de trabalho é uma conversa difícil para empregadores e funcionários. O tabu em torno do tema cada vez mais aponta para a necessidade de se desenvolver uma cultura de ouvidoria e apuração de relatos, ou seja, um processo formal de fala e escuta através de canais isentos, para que a informação sobre desrespeito aos códigos de ética e conduta flua em prol das diretrizes de integridade da empresa.

Mesmo as empresas com programas de governança estruturados podem sofrer com desconfiança entre funcionários que os impeça de relatar desvios de conduta e atitudes suspeitas no ambiente de trabalho. Seja por medo de retalhamento, caso não haja apuração dos fatos, ou simplesmente por acharem que não serão levados a sério.

Por outro lado, cada vez mais, empresários e dirigentes estão se preocupando com danos à reputação da empresa e da marca e, nesse sentido, vale lembrar que, em muitos casos, escândalos e desastres corporativos sobre os quais todos nós ouvimos nos noticiários, poderiam ter sido evitados se uma cultura de escuta e ouvidoria estivesse em vigor nessas organizações. Se assim fosse, a informação poderia fluir de forma sigilosa e anônima acarretando uma apuração da denúncia e averiguação dos fatos, justificando até mesmo uma investigação interna preventiva como parte do processo de gestão de riscos.

Não estou falando aqui apenas de riscos operacionais, reputacionais e financeiros de dimensões desastrosas, mas principalmente de vícios culturais, como o “fechar os olhos” para não se comprometer, que permitam pequenos desvios de conduta internos, como o bullying, o preconceito, e o assédio, entre outros. Estes, não só causam prejuízos morais, mas minam de forma perigosa o clima organizacional abalando a confiança na gestão, além de se traduzirem em custos significativos para a empresa, como o do absenteísmo, do alto índice de turnover que implica em processos onerosos de substituição e treinamento, sem citar os de processos jurídicos e de danos à imagem da empresa, que podem tornar a atração de talentos mais difícil para a empresa. Tais custos decorrentes da falta de ética e de integridade, a princípio ocultos, no dia a dia da empresa, acabam afetando, e muito, o seu resultado no médio e no longo prazo.

Por isso, mecanismos de compliance, como por exemplo, um canal de denúncias externo, podem reforçar a cultura para a ética e integridade, na qual os funcionários são incentivados a falar sem medo de quaisquer ameaças ao seu emprego ou do avanço de sua carreira na organização. Implementar processos que mostrem aos funcionários que reclamações e denúncias podem ser tratadas de forma sigilosa e confiável para a apuração dos fatos é um incentivo à não complacência com a má conduta por parte de qualquer membro da equipe, seja de nível hierárquico mais baixo ou superior.

Portanto, a meu ver, é imprescindível promover a cultura para a ética e integridade e os mecanismos de denúncia e apuração, para que não haja tolerância, a fim de mudar radicalmente a maneira como a má conduta no local de trabalho é tratada.

Somente criando uma cultura de conformidade com os códigos de ética e integridade, através da escuta ativa e apuração de casos, os funcionários podem se sentir confortáveis em relatar suspeitas e contribuir para assegurar o respeito às diretrizes éticas da empresa. E sem esquecer que ainda mais crucial do que ouvir é tomar as providências para apurar denúncias e suspeitas de forma confidencial, debatendo as situações apuradas em comitês de ética formados por representantes de várias áreas e de compliance, para que decisões justas e de precaução sejam tomadas, servindo de exemplo para todos por demonstrar a eficácia das diretrizes e processos.

Agora é um momento crucial para ouvir, apurar e transformar. Mais do que nunca o público consumidor e investidores estão observando as crescentes práticas de conformidade das empresas, que asseguram um crescimento mais lucrativo e duradouro.

Denise Debiasi é Senior Managing Director da Bi2 Partners, associada exclusiva no Brasil do Berkeley Research Group (BRG) e J. S. Held, consultorias globais especializadas em programas de compliance e investigações globais. Denise é especialista em governança e finanças corporativas, gestão de riscos de fraudes e contabilidade forense. Professora da FIA (Fundação Instituto de Administração) e Conselheira do IBEF / MG (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças) – Cátedra Diversidade e Inclusão. Conheça mais sobre a autora: https://www.bi2partners.com.br/lideranca/

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