Compliance na Mídia

Compliance na Mídia

Lendo as notícias das últimas semanas, reparei que as áreas de Compliance das grandes empresas estão sendo citadas recorrentemente pela imprensa. No começo de julho, um jornalista famoso foi demitido do programa matutino de televisão porque o Compliance da emissora entendeu que suas atitudes estavam incomodando muitos colegas. As várias denúncias abertas contra ele indicavam comportamento indecoroso, falas rudes, jeito prepotente e pouca empatia com os colaboradores de cargos mais simples. Diante dessa avalanche de reclamações, a área foi categórica em aconselhar a demissão do profissional. E foi isso o que a direção fez tão logo recebeu a orientação.

Um pouco antes, a antiga equipe do Compliance de uma tradicional cadeia de lojas foi questionada mais uma vez pelos jornalistas sobre a eficiência do seu trabalho. Afinal, como a equipe deste setor não conseguiu identificar as bilionárias fraudes do balanço financeiro da companhia que eram praticadas há anos pela alta administração? A indignação do pessoal da mídia é compreensível. Do que adianta ter uma estrutura para a proteção e a segurança organizacional se ela não funciona na prática? Não à toa, o departamento inteiro desta empresa foi reformulado após o escândalo contábil ganhar as manchetes dos principais veículos de comunicação do país. 

Esses foram só dois casos (talvez os mais ruidosos) que extraí da imprensa nas últimas semanas. Poderia muito bem citar outros: o Compliance de um banco nova iorquino que foi colocado em xeque após o colapso da instituição; o tradicional escritório de advocacia catarinense que lançou uma nova empresa para cuidar exclusivamente do Compliance e da proteção de dados dos clientes, e; o trio de empreiteiras gigantescas que foram liberadas pelo Compliance da estatal brasileira de petróleo para voltar a disputar licitações.

Porém, o que gostaria mesmo de mostrar não são os casos individuais e sim o contexto geral do setor. Por esse simples recorte feito nos últimos dias em vários jornais e portais de notícias dá para vermos a crescente importância do Compliance para as companhias no Brasil. A área deixou há muito tempo de ser meramente um setor coadjuvante e passou a mergulhar nas decisões mais importantes dos negócios de quase todos os segmentos da economia. Falamos aqui de entretenimento e comunicação, varejo, banco, consultoria e petróleo. E citamos exemplos tanto do setor privado quanto do público.

Em março, saiu no Jornal Valor Econômico os resultados da pesquisa “Maturidade do Compliance no Brasil” realizada em 2020. Nesse estudo quantitativo, 64% das empresas nacionais disseram fazer ações de Compliance. Se pensarmos bem, é ainda um valor baixo (pouco mais da metade). Contudo, nota-se que ele está subindo rapidamente. Não apenas o trabalho quantitativo aumenta como o qualitativo também se eleva. Ainda pela mesma pesquisa, 71% dos profissionais entrevistados da área acham que ações de controle e políticas internas se mostraram produtivas, mas com boa margem de melhoria. Ou seja, ainda há muito trabalho pela frente.

Por isso, acho muito positivo a menção, seja favorável ou desfavorável, às áreas de Compliance pelas matérias jornalísticas. Quando o público externo fica ciente da importância desse setor e do trabalho realizado por seus profissionais, a cultura do cumprimento das normas, dos controles, das políticas e diretrizes dos negócios também se fortalece para o público interno. É muito legal ver os colaboradores questionando e exigindo o Compliance a atuar cada vez mais e melhor no dia a dia das empresas.  

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Denise Debiasi é CEO da Bi2 Partners, reconhecida pela expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativas, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte a litígios, entre outros serviços de primeira importância em mercados emergentes.

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