A prática de “washing” e como preveni-la

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Alguns leitores me mandaram mensagens durante os últimos 15 dias a respeito do termo governance washing, visto na coluna anterior. Poucas pessoas haviam conhecido o termo, e se surpreenderam com a existência de mais um “washing”. Bom, como veremos adiante, existem infinitos “washings” por aí, e todos têm o mesmo significado.

O verbo to wash significa lavar, em inglês. Ultimamente, no mundo da comunicação corporativa, ele ganhou o significado de enganar, exagerar, omitir ou mentir mesmo, sobre resultados e conquistas que melhoram a imagem da empresa.

O termo mais famoso é o greenwashing que é induzir clientes e investidores ao erro de interpretação sobre os feitos da gestão ambiental, como manipular resultados, omitir problemas e declarar apenas aquilo que lhe é favorável.

Dentro do universo das enganações ambientais, existem outros “greens”, como o greenlighting (destacar uma atividade ecológica para desviar a atenção de impactos causados por outra atividade), o greenshifting (transferir a culpa dos impactos para os consumidores), o greenlabelling (mentir sobre uma característica ser sustentável) e o greenrinsing (mudar as metas ESG quando ficar claro que não serão alcançadas).

Mantendo o padrão das cores, temos o bluewashing, quando uma empresa assina um compromisso ou se filia a organismos de prevenção a questões sociais como trabalho infantil, corrupção etc., mas só para fachada. Na prática, a companhia não tem controles sobre essas práticas em suas operações e em sua cadeia de fornecedores.

O bluewashing é um subtema dentro do socialwashing, onde empresas deturpam informações sobre suas políticas de inclusão e diversidade, relacionamento com comunidades, promoção de grupos não hegemônicos etc.

Finalmente, ainda nas cores, temos o whitewashing, quando uma companhia omite de seus relatórios escândalos fiscais, de corrupção, de lavagem de dinheiro ou outro tema ligado à Governança Corporativa. É um pouco diferente do governance washing, quando outros temas relacionados à governança são omitidos, deturpados ou inventados.

Se você está pensando que, para definir uma comunicação enganosa sobre determinado tema é só colocar “washing” como sufixo… você está certo! Em revistas internacionais já cheguei a ler termos bem específicos, como rainbow washing (sobre a relação da empresa com o grupo LGBTQIA+), purpose washing (sobre o propósito da empresa) e SDG washing (sobre a adesão da empresa aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU).

Sobrou até para o jogador Cristiano Ronaldo. Após ser contratado pelo Al-Nassr, parte da mídia esportiva o acusa de conivir com o sport washing do governo saudita que – alegam os críticos – usam o famoso craque para desviar a atenção de seu governo opressor e ditatorial.

De toda forma, a prevenção aos infinitos “washings” passa pela cultura de ética e integridade, a ser comunicada amiúde e incorporada nos hábitos de todos, principalmente da diretoria, que deve dar o exemplo. Como última fronteira de proteção, uma auditoria robusta e honesta tem o dever de apontar essas não conformidades.

É também importante destacar a accountability, ou responsabilização, ou prestação de contas, ou seja, o compromisso que dirigentes de alto escalão têm com o resultado de suas decisões e a transparência na comunicação. É uma prática que deve ser prestigiada e incentivada no C-Level para prevenir a desinformação nos relatórios.

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Denise Debiasi é CEO da Bi2 Partners, reconhecida pela expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativas, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte a litígios, entre outros serviços de primeira importância em mercados emergentes.

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