A maior fraude do Brasil nos últimos anos

Fraude

O Brasil é historicamente um país pródigo no que se refere a fraudes financeiras e empresariais. Temos vários episódios marcantes em cada década, que deixaram um rastro de dívidas, famílias lesadas, investidores desamparados e empresas destruídas. Porém, nos últimos anos, os escândalos nacionais têm atingido cifras inimagináveis até mesmo para quem está acostumado a discuti-las.

Por falar em crimes do universo corporativo, você sabe qual foi a maior fraude recente ocorrida no Brasil?! Esse assunto é interessante porque as pessoas tendem a responder positivamente e apontar de forma equivocada para a crise contábil das Lojas Americanas, que monopolizou as manchetes da imprensa brasileira desde janeiro. Contudo, preciso alertar que houve nos últimos anos um esquema criminoso que provocou perdas muito maiores do que o escândalo na varejista comandada por Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles. Estou me referindo ao golpe aplicado sistematicamente às operadoras de planos de saúde.

Para se ter uma ideia de valores, calcula-se um prejuízo só em 2022 entre R$ 30 bilhões e 34 bilhões (para comparação, a fraude das Americanas teria movimentado algo na casa de R$ 25 bilhões). As perdas das empresas de planos de saúde com os golpes representam algo próximo a 13% das receitas do setor, segundo pesquisa do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS). Assim, por mais que essas companhias tenham um número recorde de beneficiários (quase 51 milhões de clientes), quase todas apresentaram elevados prejuízos nos últimos balanços.

Afinal, o que aconteceu para um setor inteiro ter sido vítima de uma enorme tramoia? Para compreender o que se passou, é preciso voltar para o período da COVID-19. Naquele momento, meados de 2020, o mercado de planos de saúde apresentava elevados lucros. As pessoas não queriam abrir mão da segurança de possuir assistência médica privada e, ao mesmo tempo, não podiam realizar exames e procedimentos médicos que não fossem de urgência. Com o recorde de receita e a diminuição dos gastos operacionais, as companhias obtiveram rentabilidade absurda. Os altos ganhos chamaram a atenção dos larápios.

Tão logo as pessoas voltaram a realizar exames, consultas e cirurgias, os planos de saúde foram vítimas de beneficiários, prestadores de serviço e profissionais pouco éticos. Vários clientes dos planos ocultaram condições preexistentes, forneceram seus dados a terceiros, pediram reembolsos duplicados e até emprestaram a carteirinha para que outros indivíduos a usassem. O pior aconteceu com algumas empresas de prestação de serviço. De maneira desonesta, elas adulteraram procedimentos, falsificaram laudos de exames, criaram atendimentos falsos e superdimensionaram consultas. Além disso, surgiram profissionais fantasmas: falsos médicos e dentistas. Ou seja, as despesas dos planos de saúde dispararam no pós-pandemia. E grande parte dos gastos era fruto da ação criminosa de indivíduos e grupos.

Em volume financeiro de perdas, em número de criminosos envolvidos e em quantidade de empresas lesadas, essa foi a maior fraude empresarial ocorrida no Brasil nesta década. Estamos falando de, repito, R$ 30 bilhões só nesse ano. Isso reforça a importância de um Programa de Compliance robusto nas empresas, para evitar que fraudes sejam criadas, bem como procedimentos de investigação interna para averiguar se a empresa é alvo de golpes externos.


Denise Debiasi é CEO da Bi2 Partners, reconhecida pela expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativas, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte a litígios, entre outros serviços de primeira importância em mercados emergentes.

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