Lembro da primeira vez que conversei com um amigo sobre sua transição para a área de Compliance. Ele, que vinha do mundo jurídico, achava que sua principal preocupação seria garantir que a empresa seguisse as normas à risca. Mas a realidade se mostrou bem diferente: ele percebeu que seu maior desafio não era apenas técnico, mas estratégico. Como engajar as equipes? Como mostrar que Compliance não era um setor burocrático, mas um diferencial competitivo? Como medir o real impacto das iniciativas?
Analisando um gráfico elaborado pela Compliance On Top 2024, vejo claramente essa mudança de perspectiva. Ao longo dos anos, as prioridades dos Compliance Officers passaram por uma evolução significativa, refletindo os desafios do mercado e as novas exigências para a área.
Até pouco tempo atrás, medir o Retorno sobre o Investimento (ROI) da área era um dos maiores desafios. Em 2018, essa preocupação atingia 46,1% dos profissionais – quase metade dos entrevistados! O tempo passou, e o tema perdeu força, caindo para 41,4% em 2024. Ainda é relevante, mas já não é mais a maior dor de cabeça dos gestores.
O que isso significa? Que o Compliance não precisa mais provar, a todo momento, seu valor. A maioria das empresas já entendeu que investir na área reduz riscos, evita multas e melhora a reputação. Não é mais uma questão de justificar sua existência – é sobre aprimorar sua atuação.
Se o ROI saiu dos holofotes, a criação de indicadores de performance para a área cresceu como uma prioridade. Em 2024, 35,9% dos Compliance Officers apontaram essa questão como um dos principais desafios. Isso mostra uma busca por mais eficiência e objetividade: não basta ter um programa de Compliance, ele precisa ser mensurável e alinhado com a estratégia do negócio.
Outro dado que chama a atenção é o engajamento da equipe. Em 2018, esse desafio estava no radar de 42,9% dos profissionais, e em 2024 ainda preocupa 33,9% deles. Quem trabalha com Compliance sabe: criar uma cultura ética dentro da empresa não é algo que acontece do dia para a noite. Não basta um código de conduta bem escrito se ele não fizer parte do dia a dia das pessoas.
Recentemente, ouvi de uma líder da área que o verdadeiro sucesso de um programa de Compliance não está na ausência de infrações, mas no número de pessoas que se sentem confortáveis para denunciar problemas e que tomam decisões com base na ética. Esse é um trabalho constante e, como o gráfico mostra, ainda está longe de ser resolvido.
Por outro lado, um dado curioso: encontrar profissionais qualificados já foi um grande desafio em 2019 (27,7%), caiu para 16,8% em 2021, mas agora voltou a subir para 23,3%. O que isso revela? O mercado amadureceu, mas ainda há um gargalo de profissionais bem preparados. E, com a evolução das exigências regulatórias e o impacto da tecnologia na área, a busca por talentos vai continuar intensa.
Além disso, dar respostas rápidas e adequadas às denúncias tem se mantido um desafio relevante. Se em 2018 era uma preocupação de 26,7% dos profissionais, em 2024 o número se mantém alto, em 25,8%. Não basta ter um canal de denúncias aberto – ele precisa ser eficaz. A demora na apuração de um caso pode comprometer toda a credibilidade do programa de Compliance e gerar desconfiança dentro da organização.
Se há algo que esse gráfico deixa claro, é que o papel do Compliance Officer está cada vez mais voltado para a gestão estratégica e menos para justificar sua importância. Medir resultados, engajar equipes, encontrar talentos e dar respostas rápidas são as grandes prioridades da atualidade.
A questão que fica é: será que estamos preparados para essa nova fase do Compliance? O que ainda precisa mudar para que a área seja vista não apenas como um escudo contra riscos, mas como um motor de inovação e boas práticas dentro das empresas?
Para saber mais sobre essa pesquisa, acesse: https://complianceontop.com.br/.
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Denise Debiasi é CEO da Bi2 Partners, reconhecida pela expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativas, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte a litígios, entre outros serviços de primeira importância em mercados emergentes.