A ética e a integridade são as melhores ferramentas para se evitar escândalos corporativos

Ética

Tenho a impressão de que os escândalos empresariais vão se avolumando mundo afora. Mal saímos de um episódio negativo já surge outro na imprensa. Ao analisar os casos de maior repercussão, é possível notar que não se trata de uma questão geográfica ou setorial. Infelizmente, todos os países e segmentos da economia reservam surpresas desagradáveis para o grande público. Porém, o que me chama mais atenção ao ler as notícias relacionadas a esses fatos é o motivo das crises. Você já parou para notar o que é normalmente escrito na mídia sobre esses ruidosos episódios?

No Brasil, como já comentei aqui na coluna há alguns meses, tivemos o escândalo contábil das Lojas Americanas. Qual a razão da perda da varejista que girou na casa das dezenas de bilhões de reais? Erro no balanço. Ou maquiagem nas contas da empresa.

Nos Estados Unidos, a Boeing se viu envolvida com uma série de problemas de qualidade no seu principal produto, o 737 Max. E qual foi a principal razão das sucessivas falhas que colocaram passageiros e tripulações em perigo nos quatro cantos do planeta? Má gestão dos fornecedores. E processos produtivos que não souberam corrigir as falhas industriais das aeronaves.

Na China, o mercado construtivo sofreu um cataclisma com a falência da Evergrande, a maior incorporadora local. A razão do colapso da companhia? Segundo as notícias dos maiores veículos chineses de comunicação, o problema foi na alavancagem excessiva dos investimentos da organização. Em outras palavras, decisões arriscadas demais que se provaram infrutíferas.

Então, resumindo, nas Americanas, na Boeing e na Evergrande, os motivos das graves dificuldades foram, respectivamente, os equívocos financeiros da direção, as falhas de qualidade dos fornecedores e os erros de investimento da alta administração. Agora eu me pergunto: será mesmo que foram essas as reais motivações dos infortúnios desse trio de corporações?!

Na minha visão, o motivo por trás de quase todos os grandes escândalos empresariais está na atitude antiética de seus profissionais e de seus executivos. Ninguém se pergunta: por que houve problema contábil? Por que tiveram sucessivos erros de qualidade? Qual o motivo para a ocorrência de equívocos nos investimentos de médio e longo prazos? A resposta invariavelmente é: decisões que atentaram contra a integridade institucional e os valores corporativos.

Por isso a importância do Compliance e da ética nos negócios. Quando fazemos tudo conforme as regras, não temos a certeza de que vamos triunfar em mercados tão competitivos. Por outro lado, quando damos as costas para os valores virtuosos e as boas práticas sociais, a certeza do fracasso se consolida. Até pode haver um sopro momentâneo de sucesso aqui e ali. Entretanto, em médio e longo prazos a sujeira que foi escondida embaixo do tapete se avoluma e é difícil de escondê-la. Aí o castelo de cartas cai com enorme rapidez, para perplexidade do público.

Por isso, no próximo grande escândalo corporativo que sair no jornal, na televisão e na Internet, pergunte-se: qual o real motivo por trás da falência, da crise de credibilidade ou da enorme queda no valor de mercado desta organização? Aposto que a razão é a postura antiética de seu corpo diretivo.   

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Denise Debiasi é CEO da Bi2 Partners, reconhecida pela expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativas, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte a litígios, entre outros serviços de primeira importância em mercados emergentes.

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